Por que o Mundial de Críquete pode mudar o jeito como você verá esporte

Por: Ubiratan Leal
7 de fevereiro de 2015 às 16:22

Será noite de quinta no Brasil, manhã de sexta na Nova Zelândia. A seleção local entrará em campo para enfrentar o Sri Lanka e abrir a 11ª edição da Copa do Mundo de Críquete. Provavelmente você não levantará um dedo para saber o que vai acontecer nesse torneio, mas ele pode ser o início de uma nova fase nas transmissões esportivas na TV.

O Mundial de Críquete é um dos maiores eventos esportivos do planeta. Certamente é menor que a Copa do Mundo de futebol e os Jogos Olímpicos, mas briga com o Mundial de Rúgbi pelo posto de terceiro maior. Claro, o fato de ser disparado o esporte mais popular da Índia ajuda, mas também é uma modalidade bastante popular ou relevante em Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Inglaterra, Paquistão e Caribe. Por isso, há muita disputa pelos direitos de transmissão do evento, tanto que a ESPN e o Star Cricket (canal do grupo Fox) pagaram US$ 2 bilhões.

Boa parte do dinheiro desembolsado pela ESPN serve para atender ao mercado indiano, onde o ESPN Star Sports transmitirá todo o torneio, com exclusividade dos jogos que não forem da Índia. Mas, para os Estados Unidos (onde há uma enorme comunidade indiana que acompanhará o torneio), a emissora esportiva do Grupo Disney adotou uma nova estratégia, e aí está a novidade: assinatura pela internet.

No último dia 3, o canal começou a vender o serviço de streaming em HD por US$ 99,99. Quem comprar o pacote poderá assistir a todos os jogos ao vivo (ou em VT por demanda) em inglês ou hindi no computador, celular ou tablet. Até aí, não parece a maior novidade do planeta. As ligas norte-americanas oferecem a possibilidade de ver os jogos pela internet, a Uefa também com a Champions League e até o Premiere FC para o Brasileirão. Mas, para a ESPN, fazer isso no Mundial de Críquete é o início de algo maior.

Nos pacotes das ligas, como o NBA League Pass, o MLB.TV ou o Premiere FC, o serviço de streaming serve para complementar ou tapar buracos da cobertura da TV. Não há uma transmissão própria (o serviço pela internet usa as transmissões feitas pelos canais de TV) e, no caso das ligas americanas, o sinal é bloqueado caso exista a opção de se ver pela TV. Por exemplo, um torcedor dos Knicks que more em Nova York não pode ver seu time pelo League Pass, pois estará bloqueado para que ele seja obrigado a ver pela mídia hierarquicamente prioritária (a TV). Para esse nova-iorquino, o League Pass só serve se ele se mudar para uma região do país em que não sejam transmitidos os jogos dos Knicks na TV.

A ESPN estuda acabar com essa hierarquia em que a TV está acima da internet. A emissora já faz transmissões por streaming há anos, pelo Watch ESPN ou a ESPN3. Mas sempre é voltado para quem já é assinante do canal. Dessa vez, o pacote é completamente independente do serviço de TV. A intenção é testar o mercado, pois a ESPN já tem planos de expandir esse serviço, criando pacotes de assinatura para internet na NBA e na MLS. Não seria apenas uma liga criando uma opção pela internet para passar os jogos para cidades em que eles não estão disponíveis. Seria uma corporação se transformando em um grande canal de eventos esportivos por streaming e vendendo esse produto diretamente ao torcedor, tirando do caminho o intermediário (no caso, as operadoras de TV por assinatura).

Se der certo, esse caminho pode mudar substancialmente a estrutura dessa indústria, como o Netflix mudou no mercado de séries, desenhos animados e filmes. A ESPN pode atingir milhões de pessoas sem ter de depender de um provedor de TV a cabo ou satélite.

No Brasil, o Mundial de Críquete será transmitido no Watch ESPN.