Depois de um ano atípico, cricket se prepara para grandes competições
Artigo de Paulo Vítor Campos – Esporte Poços
inalmente está terminando 2020. Um ano atípico que vai ser facilmente esquecido devido às dificuldades enfrentadas pela pandemia do novo coronavírus. O esporte em geral não escapou do caos e viu competições importantes, como as Olimpíadas, sendo canceladas. Falando em Olimpíadas, o cricket brasileiro vive grande fase e pleiteia um lugar nos jogos de 2028, por isso esperava-se que este ano a equipe nacional fosse importante nesta preparação. A pandemia não deixou e prejudicou os treinos do time feminino, que agora vê em 2021 o ano primordial para a evolução do grupo.
O Mantiqueira conversou com Matt Featherstone. Após as restrições terem sido amenizadas e os treinos em grupo liberados ele trouxe todo o time feminino para treinar na cidade. Segundo ele, isso facilitou o entrosamento e a preparação para a temporada que se inicia e que terá jogos importantes para o selecionado brasileiro. Confira como foi a conversa de Matt com o Mantiqueira.
2020 produtivo
Matt não lamenta a falta de jogos e poucos treinos em 2020. Segundo ele, com todas as dificuldades enfrentadas o ano acabou sendo produtivo e muitas coisas aconteceram nos bastidores e estes acontecimentos fortalecem o grupo na briga para ficar entre os melhores da modalidade.
“Claro que não tivemos nenhum jogo fora do Brasil, nenhum campeonato importante foi disputado, nem no Brasil e nem fora, mas nosso cricket cresceu muito em 2020”, disse Matt.
Ele destaca que o Brasil conseguiu ser o primeiro país no mundo a ter uma seleção contratada treinando junta. “Montamos uma estrutura que seleções muito maiores que a nossa não possuem”, disse ele, destacando que a seleção brasileira feminina conta com médicos exclusivos, entre outros profissionais especializados que cuidam de todo o time.
“Temos parcerias com médicos, com o jornal Mantiqueira, que vem fazendo um trabalho de divulgação muito bacana do nosso cricket, a prefeitura de Poços de Caldas nos abraçou, diversas empresas da cidade estão juntas conosco em nossos projetos, ou seja, montamos uma equipe que realmente acreditamos que vai fazer a diferença nos vários campeonato mundiais que vamos ter pela frente”, falou Matt.
O cricket em Poços tem apoio da Alcoa, Caixa Econômica Federal, Ong Cidadania e Moradia, Associação Atlética Caldense, Prefeitura Municipal de Poços de Caldas, Hotel Minas Gerais, Departamento Municipal de Eletricidade, Caixa Econômica Federal, Clínica de Fisioterapia Humanus, Duson. Laboratório Dra. Tânia Medicina Diagnóstica e ICC Mundial.
NOVA SEDE
Entre as conquistas no ano destacadas por Matt está a sede nova localizada no Country Club, junto ao campo de malha. O local é palco dos treinos da seleção brasileira e também a sede administrativa do cricket Poços. O local foi entregue ao cricket no início do ano e ao longo da temporada foram realizadas diversas melhorias.
“Tínhamos uma verba que era destinada às viagens durante as competições e como estas viagens não aconteceram investimos este dinheiro nas melhorias para nossa sede. Sempre destaco nas conquistas do cricket que a cada ano cresce mais dentro de Poços de Caldas e nossos planos é expandir além de nossas fronteiras. Já mantivemos conversas com prefeitos de diversas cidades da região e eles estão muito interessados em levar o projeto para suas cidades. Isto só não aconteceu ainda devido à atual situação de pandemia, não fosse isto já teríamos projetos de cricket em pelo menos outras três cidades. Se Deus quiser este covid vai embora logo e tudo que foi planejado para 2020 vai acontecer em breve. O que aconteceu foi apenas uma adiamento das coisas”, disse Matt.
Campeonato mundial
Matt conta que o principal foco no momento é montar bem a seleção brasileira feminina para o campeonato mundial. Ele destaca que fazer uma boa participação na competição é fundamental para os planos do esporte nos próximos anos. A competição acontece em setembro e antes o time realizará diversas partidas preparatórias.
“Teremos jogos na Argentina, Alemanha, Estados Unidos e ainda a disputa do Campeonato Sul-Americano. Jogos importantes que vão dar uma bagagem muito boa para nossas meninas para os desafios maiores que virão pela frente
Em 2020 não tivemos uma preparação perfeita devido à falta de jogos fora, contra times fortes, mas por outro lado foi perfeita na parte de estratégia, de traçar os caminhos mais fáceis a seguir para buscarmos nossos objetivos”, conta Matt.
Acostumado a viagens longas boa parte do ano, Matt conta que este ano ficou mais tempo no Brasil e com isso conseguiu estruturar a seleção feminina da forma que desejava. Ele trouxe um treinador da Inglaterra, Liam Cook, que passou boa parte do tempo com o time feminino em Poços de Caldas, e este treinador conseguiu implantar o seu estilo de jogo ao time brasileiro. “Foi um ano bastante diferente, mas posso falar que foi bastante proveitoso para nossas meninas. Procuramos acertar todos os detalhes, corrigir todos os problemas para que 2021 seja um ano perfeito para a seleção brasileira.
Treinos
Matt destaca o aprendizado em um ano cheio de restrições. Quando o time não podia se encontrar para treinar com bola se reuniu virtualmente para conversas e aprimoramentos do inglês.
“Conversamos bastante, o que não acontece muito quando estamos treinando com bola. Depois, com o espaço aberto para os treinos com bola, conseguimos voltar a fazer o principal que é o jogo em si. Foi um ano ruim para todos, mas conseguimos, de alguma forma, tirar proveitos”
2021
Como já foi dito por Matt, a temporada tem como destaque o campeonato mundial. Antes o time deve participar de campeonatos preparatórios de três em três meses. A equipe vai disputar o Campeonato das Américas, que reunirá Brasil e Argentina, rivais em praticamente todos os esportes e no cricket esta rivalidade não é diferente. Depois, a equipe participa de uma competição amistosa contra a Alemanha.
Matt conta que apesar de amistosos estes jogos diante dos europeus vão contar pontos para o ranking mundial. Atualmente, a Alemanha é a vigésima quinta do mundo e o Brasil vigésimo sétimo. Se vencer os alemães o Brasil troca de posição com eles. A meta brasileira é estar entre os 20 melhores em 18 meses.
Ainda em 2021, o Brasil vai enfrentar a França e em setembro segue para os Estados Unidos contra a forte seleção local. Matt destaca que esta partida contra as norte-americanas é tratada como o mais importante da vida das meninas da seleção brasileira.
“Nestes jogos nossas meninas terão a chance de mostrar para o mundo do que são capazes. Elas vão ter a chance de mostrar o que estamos fazendo, como estamos treinando, nossas jogadas. Será uma grande vitrine para nosso time”, conta.
Ele ressalta que no papel os Estados Unidos têm o melhor time, mas o Brasil tem chances de chegar lá e surpreender. Ele destaca que se o Brasil conseguir uma vitória diante das adversárias poderosas vai mudar de patamar e conquistar grande respeito no mundo do cricket.
Se elas quiserem viver bem do esporte terão que ganhar estes jogos. Vão passar a ter mais respeito, suas vidas vão mudar e por isso todas estão cientes da importância destes jogos contra os Estados Unidos
Claro que se não vencerem não será o fim do mundo, mas é importante jogarem bem, depois elas vão ter outras chances, mas vencer agora seria indescritível”, continuou Matt.
Time masculino
Com o time feminino bastante competitivo e buscando posições entre as melhores do mundo, Matt falou do time masculino e de como anda o trabalho com a equipe. Ele conta que o trabalho maior vem sendo desenvolvido com o sub-17 e que os meninos foram divididos em grupos menores e estão treinando muito bem. Segundo o professor, a equipe teria este ano a disputa do Campeonato Sul-Americano no Rio de Janeiro, mas a competição não foi realizada. A expectativa é que aconteça em 2021.
“Depositamos boas esperanças neste time masculino, mas o sub-17 não tem competição mundial, o que acontece só no sub-19. Nossa meta é ficar com esta equipe até que eles completem a idade e com o entrosamento adquirido consigam fazer um bom mundial em dois anos”, disse.
Matt destaca a qualidade dos meninos e acredita que em um ano e meio o Brasil terá um time muito forte também entre os homens.
“O atleta não precisa estar num lugar específico para ser um bom jogador. Ele pode ser brasileiro, alemão, inglês, norte-americano, se tiver talento ele vai vingar no esporte. Além do talento ele precisa ter muita dedicação e isso nossos meninos possuem de sobra. São dedicados e querem que o esporte dê certo em suas vidas e estamos aqui para ajudar”.
Projetos
Matt falou também dos projetos realizados em Poços de Caldas. 4.210 crianças praticam o esporte em diversos núcleos espalhados pelas comunidades, mas em 2020 não aconteceram atividades. “Muita gente envolvida anualmente com o cricket em Poços de Caldas, temos 12 pessoas cursando faculdades graças aos projetos, mas, infelizmente, desde março tudo parou. Esperamos que logo saia a vacina para os brasileiros e que em 2021 as atividades retornem com força total”, falou Matt, que tem planos ainda maiores para os projetos.
Ele quer aumentar o número de praticantes e chegar o final do ano com mais de seis mil crianças jogando cricket na cidade. Matt conta que o projeto visa levar o cricket para 25 mil pessoas em toda a região.
Espaços
Matt diz que levando o cricket para todas as comunidades da cidade, consegue-se ajudar num problema sério enfrentado nos bairros, a falta de conservação do espaço público. Segundo ele, com grupos usando os locais frequentemente a tendência é de queda no vandalismo.
“Em conversa com o vice-prefeito eleito Júlio César Freitas abordamos exatamente este ponto. Queremos ocupar as quadras da cidade, muitas vezes abandonadas, e torná-las locais agradáveis novamente. Por que não levar um pouco de energia positiva com o esporte? É isto que queremos fazer com o cricket e acredito que outras modalidades também podem ocupar estes espaços com projetos interessantes”, disse Matt.
Secretário de Esportes
Matt também fala de política. Tendo seu nome sondado no meio do ano como um possível secretário de Esportes, ele acredita que pode fazer mais pelo esporte na função que ocupa atualmente, professor, treinador, dirigente, revelador de talentos e incentivador.
“Futuramente seria um prazer uma função política em prol do esporte, mas agora o momento é focar nas metas traçadas para a seleção brasileira e para os projetos. Poços de Caldas tem um potencial enorme, é uma cidade agradável e tem todas as possibilidades de ser polo em diversas modalidades esportivas. Poucas cidades da região têm nossa estrutura esportiva. São quadras, campos de futebol, enfim, muitas praças, que, claro, precisam de melhorias, mas temos caminhos para realizar estas melhorias através de parcerias”, disse Matt.
Ele cita o Country Club como um exemplo de local que poderia se transformar num moderno centro esportivo na cidade.
“Temos uma sede naquele local, mas vejo ali um grande potencial que precisa ser explorado. Temos quadras de tênis, complexo aquático, quadras de futsal, campos, além de um lugar maravilhoso, muito lindo, mas pouco aproveitado. Nenhuma cidade tem um local como estes, uma joia que não é usada. O Country tem condições de sediar projetos de natação, tênis, futebol, vôlei, basquete, entre outros, e agregar um grande número de pessoas. Acho que o foco da cidade tem que ser usar o que tem de melhor e Poços de Caldas esportivamente é um paraíso”, disse Matt.
Ele destaca que enquanto muitas cidades precisam criar novos locais para levar esporte, Poços de Caldas tem de sobra bons locais, basta criar projetos para estes locais.
“Estou no Brasil há 20 anos e hoje vejo que o esporte aqui está sendo mais valorizado atualmente e precisamos aproveitar isso. O esporte é o caminho para tirar o jovem das drogas e o afasta dos hospitais por problemas de saúde. Poucas pessoas vivem do esporte, mas uma infinidade é contemplada pelas coisas boas que ele traz para suas vidas”, completou Matt.