Meninas do São Sebastião Cricket Club disputarão pela primeira vez o Campeonato Nacional Feminino, neste fim de semana, no Clube Nipo, em Brasília

Matéria de Maria Eduarda Cardim

A equipe é formada por alunas do projeto e por atletas que defenderam seleções nacionais
Apesar de ser confundido com o bete e pouco praticado no país, nos últimos anos, o críquete tem ganhado um bom espaço em Brasília. Mesmo que pequena e lenta, é possível observar a evolução da modalidade na cidade. No Campeonato Nacional Feminino criado em 2013, apenas dois times participavam até o ano passado: um da capital federal e outro de Poços de Caldas (MG). Em 2017, a novidade é que mais um time brasiliense participará da primeira etapa do torneio, marcada para este fim de semana, no Clube Nipo, no Setor de Clubes Sul.

O São Sebastião Cricket Club é o caçula da competição. O time nasceu de um projeto social implementado em 2015 em escolas públicas da Região Administrativa. O programa, que ensina a modalidade para crianças e adolescentes, é uma parceria da Secretaria de Esportes e da Secretaria de Educação. Com isso, no ano passado, foi criada uma associação local para desenvolver o críquete na cidade. A partir daí, surgiu a vontade de formar um time próprio.

A base da equipe composta por 11 atletas é formada por alunas do projeto. Para completar, competidoras veteranas que estavam sem time voltaram a jogar e agora integram o grupo. Quatro delas já representaram o Brasil, como Elisa Carvalho, de 43 anos. Idealizadora do São Sebastião, ela jogou pelo Brasília Cricket Ladies e pela Seleção Brasileira. “O time nasceu de um projeto social, de ex-atletas que querem ajudar e com muita vontade de levar o esporte para uma comunidade que está mais afastada”, explica.

Elisa conta que a ideia é que um dia as meninas do projeto formem uma equipe só delas, sem precisar de reforços. “Queremos que saiam atletas daqui para a Seleção Brasileira”, afirma. Segundo o Cricket Brasil — associação que regulamenta o esporte no país —, a Seleção feminina já foi formada inteiramente por brasilienses. Na última convocação, estavam cinco competidoras da cidade. Da capital, dois times femininos e um masculino disputam a liga nacional. Está nos planos criar uma equipe masculina de São Sebastião ainda neste ano.

Nos treinos, a missão é conseguir reunir todas as garotas num só lugar. Para praticar, elas se encontram na Vila Olímpica de São Sebastião, no ginásio de uma escola da região cedido nos fins de semana e na Esplanada dos Ministérios. Como são de diferentes lugares, as jogadoras só conseguiram conciliar os treinos em fevereiro. Apesar do nervosismo e da ansiedade para o primeiro desafio do time, as meninas esbanjam vontade. “Será nossa primeira experiência, mas temos expectativa de fazer jogos competitivos. Nossa ideia é estar na final no domingo (amanhã)”, espera Elisa.

Equilíbrio

A bagagem que falta nas novatas, sobra para as veteranas. Além de Elisa, um reforço importante no time é a capitã da equipe. Única estrangeira no grupo, a chilena Jeannette Garcés, 32 anos, sabe que a primeira participação numa disputa é sempre difícil. Ela foi técnica da Seleção Brasileira feminina da modalidade e conquistou o título sul-americano. “Além de vencer, temos objetivos a longo prazo porque sabemos que o time está começando a se construir e vai crescer”, afirma.

Jeannette conheceu a modalidade durante a faculdade no Chile. Ela nunca morou no Brasil, mas já atuou no Brasília Cricket Ladies. “Jogava no time do Chile quando conheci as meninas do Brasil num campeonato”, relembra. Quando a seleção do país dela acabou, foi convidada pelas brasileiras para defender a equipe da capital federal. “Eu me comprometi com o esporte daqui e venho de três a cinco vezes no ano para jogar e acompanhar.”

Profissionalismo distante

Idealizadora do São Sebastião, Elisa Carvalho afirma que de todos os esportes, o críquete é o que menos exige um único tipo de praticante. “Não interessa se a pessoa é alta, baixa, mais gordinha ou magra, cada função pede uma característica”, diz. O preparo físico, conta a atleta, não é tão importante. Ela começou a jogar aos 39 anos, após ver uma reportagem do Correio sobre um campeonato que ia ocorrer na cidade. “Estava havia 10 anos sem fazer esporte nenhum. Comecei a praticar e, após um ano, estava jogando pela Seleção”, relembra.

Apesar da rápida evolução, no Brasil, a prática tem característica de hobby. Até mesmo os equipamentos adequados, apesar de simples, não são encontrados no país. “O esporte não seria caro se houvesse equipamentos.” A bola, o taco e até mesmo o wicket (feito de plástico) são importados.

O taco que Elisa importou da Inglaterra custou o equivalente a R$ 800. A atleta ressalta que é um bom equipamento, mas não o melhor. Dessa forma, o luxo de ter um objeto próprio não existe, e ela o divide com as crianças do projeto. “A gente queria produzir para os meninos brincarem na rua. Com um taco próprio, eles poderiam praticar fora da aula”, argumenta.

Conheça o críquete

O críquete chegou ao Brasil no fim do século 19, quando os ingleses vieram trabalhar em ferrovias do país. O esporte no continente americano ainda é pouco conhecido. Tem sido mais praticado em países que foram colônia britânica. Austrália, Paquistão e Índia são algumas nações com numerosos praticantes. No Brasil, há relatos de jogos desde 1872. A Associação Brasileira de Cricket (ABC) foi criada em 2001 e, no ano seguinte, se filiou à Internacional Cricket Council (ICC). Além do DF, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais são associados à ABC.